Em uma época de intensas mudanças culturais e sociais, na qual a flexibilidade do mundo do trabalho substituiu sua antiga rigidez e a tecnologia abriu portas para novos modelos de negócio e novas formas de operar as organizações com a transformação digital, as possibilidades se expandem. E lidar com os temas da diversidade e inclusão torna-se essencial para que se estabeleça novos paradigmas dentro de um pensamento transformador, onde as capacidades de negócio se ampliem e possam efetivamente se beneficiar de toda a inovação que vem por aí.
Nesse contexto, a convivência entre gerações e a maior presença da mulher no mercado de trabalho são fatores críticos de sucesso, em especial, no ambiente STEM – abrange as ciências, tecnologia, engenharia e matemática – disciplinas essenciais para a transformação digital, onde a diversidade pode ser decisiva para que a transformação digital seja disseminada e aplicada de forma mais abrangente por toda a sociedade.
Além da questão etária, em que pessoas mais velhas são substituídas por profissionais mais jovens com frequência, observa-se que em cada cinco profissionais na área de tecnologia da informação, somente uma é mulher. Este é o resultado de uma pesquisa recente realizada pela consultoria KPMG, que ainda mostra que apenas 12% dos postos de chefia do setor são ocupados por mulheres.
Outras pesquisas demonstram que o salário das mulheres nesse segmento é 11% menor do que os dos homens, mesmo em cargos iguais. Mesmo com números tão baixos, segundo uma consultoria de recrutamento especializada em seleção de profissionais de TI, em pesquisa realizada no ano passado, 82% das mulheres relatou já ter vivido ou ainda vivenciar o preconceito de gênero dentro de seu ambiente de trabalho.
Em live que moderei recentemente, profissionais da área de marketing digital e experiência do cliente, engajados nesta jornada, debateram esse assunto no contexto das empresas de tecnologia tradicional, mas também abordamos as xtechs – startups do segmento tecnológico – para formar um entendimento de como os temas da diversidade e inclusão são abordados em seus modelos de negócio. Segundo eles, as coisas estão melhorando, porém ainda em ritmo muito devagar, e que cabe às empresas a responsabilidade de trazer mais mulheres para o mercado, estimulando-as a se desenvolverem nas áreas científicas em geral, e na tecnologia da informação em particular, mas acenando com postos de trabalho para que possam ter espaço no mercado após a formação.
Outro ponto discutido foram os conceitos de diversidade e inclusão como duas faces da mesma moeda ou, como foi mencionado por um dos debatedores, “enquanto a diversidade é convidar alguém para uma festa, a inclusão é chamar este alguém para dançar”. A diversidade pode trazer as pessoas para o ambiente de trabalho, mas a inclusão faz como que elas se sintam bem e se mantenham em seus empregos. Diversidade sem inclusão aumenta o turn over.
Os processos seletivos são vistos como fundamentais. O “viés inconsciente”, definido como uma espécie de atalho mental, faz com que os entrevistadores tomem uma decisão mais rápida e confortável. A mudança e a quebra deste viés são fundamentais para que a diversidade seja considerada com mais frequência nas seleções. Uma solução, que não é ainda a ideal, têm sido os processos de seleção “às cegas”, considerados como primeiros passos importantes nesse sentido.
Muitos gestores ainda não sabem, mas investir em diversidade e inclusão revela a responsabilidade da organização em relação à sociedade e melhora a percepção da marca. Mas não é só isso. Este movimento a torna mais atrativa para os melhores profissionais, facilita a retenção de profissionais de excelência e torna o ambiente de trabalho mais colaborativo. Potencializa o lado criativo das equipes, com o compartilhamento de diferentes pontos de vista, experiências profissionais ou mesmo de vida trazendo o ambiente ideal para a inovação que revoluciona produtos, serviços, processos e modelos de negócio.
Apostar na diversidade e na inclusão não deve ser visto somente como um posicionamento de mercado, mas como estratégia necessária para o crescimento e sustentabilidade das organizações.
Enio Klein é CEO da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação na Business School SP.
(Fonte: Revista Cipa)