{"id":2016,"date":"2021-01-02T18:25:00","date_gmt":"2021-01-02T21:25:00","guid":{"rendered":"https:\/\/playcipa.com.br\/?p=1405"},"modified":"2021-01-02T18:25:00","modified_gmt":"2021-01-02T21:25:00","slug":"hiv-licoes-de-quatro-decadas-em-resposta-a-pandemia-do-covid-19","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/playcipa.com.br\/hiv-licoes-de-quatro-decadas-em-resposta-a-pandemia-do-covid-19\/","title":{"rendered":"HIV: li\u00e7\u00f5es de quatro d\u00e9cadas em resposta \u00e0 pandemia do Covid-19"},"content":{"rendered":"\n

O v\u00edrus da imunodefici\u00eancia humana (HIV) e o SARS-CoV-2 n\u00e3o se parecem em quase nada, mas a resposta \u00e0 pandemia de covid-19 tem muito a aprender com as quatro d\u00e9cadas de esfor\u00e7os contra a Aids. N\u00e3o s\u00f3 em mat\u00e9ria de pesquisa e desenvolvimento, mas tamb\u00e9m de comunica\u00e7\u00e3o, comportamento humano, equidade e implementa\u00e7\u00e3o de programas para prevenir, detectar e tratar a infec\u00e7\u00e3o em escala mundial. Sobretudo com vistas a evitar futuras ondas de grande impacto e preparar a distribui\u00e7\u00e3o das vacinas.<\/p>\n\n\n\n

Pesquisar hoje as epidemias de amanh\u00e3<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Foram necess\u00e1rias d\u00e9cadas de pesquisa sobre quest\u00f5es que nada t\u00eam a ver com um coronav\u00edrus para que os prot\u00f3tipos de vacinas contra a covid-19 pudessem ser desenvolvidos em quest\u00e3o de meses. \u00c9 o que explica o fundador das unidades de Pesquisa do HIV e C\u00e2ncer da Universidade Harvard, William Hasseltine, que liderou o trabalho de sequenciar o genoma do HIV na d\u00e9cada de 1980.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA pesquisa sobre o HIV foi absolutamente vital para a covid-19: legou muitos dos cientistas que agora lideram a pesquisa sobre o novo v\u00edrus junto com a infraestrutura para realizar estudos e ensaios cl\u00ednicos. Os primeiros f\u00e1rmacos efetivos contra a Aids, por sua vez, eram medicamentos que tinham sido rejeitados para o c\u00e2ncer\u201d, conta Hasseltine que, por coincid\u00eancia, foi uma das primeiras pessoas a se salvarem de morrer gra\u00e7as a outra inova\u00e7\u00e3o, a penicilina, em 1945.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSem o fracasso das vacinas contra o HIV n\u00e3o ter\u00edamos o sucesso das vacinas contra o SARS-CoV-2\u201d observa Jos\u00e9 Alcam\u00ed, que dirige a Unidade da Imunopatologia da Aids do Instituto de Sa\u00fade Carlos III, em Madri. Prot\u00f3tipos como os dos laborat\u00f3rios Moderna e AstraZeneca se baseiam em novos modelos de vacinas que vinham sendo testados em doen\u00e7as como zika, ebola, febre amarela e, sobretudo, a Aids.<\/p>\n\n\n\n

Birgit Poniatowski, diretora-executiva da Sociedade Internacional de Aids (IAS), destaca os n\u00edveis de colabora\u00e7\u00e3o sem precedentes suscitados pela covid-19 e como a IAS est\u00e1 promovendo o di\u00e1logo entre as diversas comunidades cient\u00edficas. \u201cEntretanto, n\u00e3o devemos nos esquecer do HIV nestes tempos dif\u00edceis; preocupa-nos o fato de que muitos pesquisadores passaram para a covid-19 e j\u00e1 n\u00e3o t\u00eam tempo para continuar seu trabalho no HIV\u201d, afirma. \u201cTamb\u00e9m eu gostaria que o mesmo entusiasmo [em torno da covid-19] se tornasse extensivo \u00e0s demais doen\u00e7as infecciosas, incluindo a tuberculose, a mal\u00e1ria e o HIV, para o qual ainda n\u00e3o existe uma vacina\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Linda-gail Bekker, vice-diretora do Centro Desmond Tutu para o HIV, fala da \u00c1frica do Sul, um dos territ\u00f3rios mais afetados pelo HIV e a tuberculose no mundo e o pa\u00eds da \u00c1frica subsaariana com mais casos de doentes por coronav\u00edrus. \u201cO envolvimento do setor privado no desenvolvimento de vacinas e medicamentos para a covid-19 n\u00e3o tem precedentes; n\u00e3o a vimos nem sequer no HIV ou a tuberculose\u201d, afirma Bekker.<\/p>\n\n\n\n

Vacinas sim, tratamentos tamb\u00e9m<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Os recursos para pesquisa sobre a covid-19 se concentraram no desenvolvimento de vacinas, deixando o desenvolvimento de f\u00e1rmacos em um segundo plano. Isso apesar de a luta contra o HIV j\u00e1 ter revelado a falsa dicotomia entre preven\u00e7\u00e3o e tratamento e o fato de n\u00e3o haver panaceia, e sim uma combina\u00e7\u00e3o de ferramentas, segundo a diretora do Centro Internacional de Pesquisa Cl\u00ednica da Universidade de Washington, Connie Celum. \u201cO HIV nos ensinou que o tratamento tamb\u00e9m \u00e9 preven\u00e7\u00e3o, no sentido de que diminui a carga viral a ponto de evitar a transmiss\u00e3o\u201d diz, apontando algo que poderia ocorrer tamb\u00e9m com a covid-19.<\/p>\n\n\n\n

Os medicamentos para a covid-19 poderiam desempenhar um papel importante inclusive num mundo com vacinas. Sobretudo, levando-se em conta que sua distribui\u00e7\u00e3o n\u00e3o se dar\u00e1 da noite para o dia. Os f\u00e1rmacos poderiam evitar que os casos leves se transformem em severos; reduzir o tempo de hospitaliza\u00e7\u00e3o e frear o cont\u00e1gio, embora, segundo Celum, fosse necess\u00e1ria uma inje\u00e7\u00e3o de recursos para desenvolver produtos espec\u00edficos para o coronav\u00edrus no lugar de reutilizar os existentes.<\/p>\n\n\n\n

Os especialistas coincidem em apontar que a covid-19 chegou para ficar e que a aspira\u00e7\u00e3o \u00e9 conseguir manej\u00e1-la como o v\u00edrus da gripe. Mas isso exige apoiar a pesquisa cient\u00edfica de forma sustentada ou confrontar as consequ\u00eancias.<\/p>\n\n\n\n

Hasseltine cita um exemplo: na d\u00e9cada passada, estavam sendo desenvolvidos f\u00e1rmacos contra a SARS e a MERS que tamb\u00e9m poderiam ter funcionado contra o SARS-CoV-2, mas, passado o alarme, os recursos foram retirados, e a iniciativa ficou no ar. \u201cA li\u00e7\u00e3o \u00e9 que n\u00e3o se deve nunca baixar a guarda quando se trata de financiar pesquisas antivirais\u201d, diz o cientista e tamb\u00e9m fundador de uma d\u00fazia de empresas biotecnol\u00f3gicas.<\/p>\n\n\n\n

Gerar confian\u00e7a<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

As normas s\u00e3o importantes, mas n\u00e3o bastam para conter doen\u00e7as infecciosas como o HIV e a covid-19. Elas s\u00f3 podem ser controladas se os cidad\u00e3os confiarem nas estrat\u00e9gias de sa\u00fade p\u00fablica de seus pa\u00edses e decidirem colaborar para protegerem a si mesmos e aos outros. Um dos trabalhos primordiais das autoridades, e tamb\u00e9m dos cientistas, \u00e9 gerar essa confian\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Perguntada sobre como os Governos est\u00e3o se saindo, Sharon Lewin, diretora do Instituto Peter Doherty de Infec\u00e7\u00f5es e Imunidade de Melbourne (Austr\u00e1lia), afirma: \u201c\u00c9 como se cada pa\u00eds estivesse sendo examinado ao mesmo tempo e num quarto diferente; os resultados est\u00e3o sendo muito desiguais\u201d. Dois elementos importantes para melhorar a nota dos Governos s\u00e3o uma comunica\u00e7\u00e3o efetiva e mecanismos que facilitem o cumprimento das pol\u00edticas de sa\u00fade p\u00fablica, desde ajudas econ\u00f4micas at\u00e9 traduzir as informa\u00e7\u00f5es para imigrantes.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 essencial que os cientistas sejam ouvidos e que a ci\u00eancia seja transmitida ao p\u00fablico de forma clara e sem ambiguidades; e quando algo n\u00e3o se sabe, \u00e9 preciso dizer\u201d, diz Bekker, do Instituto Desmond Tutu. Para Celum, da Universidade de Washington, os cientistas tamb\u00e9m t\u00eam um papel a desempenhar. Quando saltou o alarme pelo HIV, na d\u00e9cada de 1980, a Internet n\u00e3o existia, por exemplo. \u201cComo cientistas, devemos ajudar o p\u00fablico a diferenciar entre resultados preliminares e provas s\u00f3lidas, entre os estudos confi\u00e1veis e outros pequenos ou mal desenhados.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Hasseltine est\u00e1 de acordo, mas tamb\u00e9m salienta a responsabilidade individual para o bem-estar comum. \u201cA ci\u00eancia foi estelar tanto no caso do HIV como da covid-19, mas n\u00e3o \u00e9 suficiente. \u00c9 preciso ter lideran\u00e7a pol\u00edtica e solidariedade social para controlar estas pandemias\u201d, diz. \u201cA liberdade individual \u00e9 importante, mas tem limites: quando em plena pandemia dizemos que estamos no direito de n\u00e3o usar m\u00e1scara e ir ao bar toda noite, estamos violando esses limites.\u201d Em um mundo globalizado, isso significa que o v\u00edrus n\u00e3o s\u00f3 continua sendo transmitido entre vizinhos, mas tamb\u00e9m entre pa\u00edses, muitos deles com sistemas de sa\u00fade fr\u00e1geis j\u00e1 antes da chegada da covid-19.<\/p>\n\n\n\n

Defender os direitos humanos<\/strong><\/h3>\n\n\n\n

Pol\u00edticas subnacionais incoerentes e descoordenadas. Restri\u00e7\u00f5es draconianas. Infra\u00e7\u00f5es com grande repercuss\u00e3o. Politiza\u00e7\u00e3o da resposta. Tens\u00f5es sobre o acesso \u00e0 vacina. Contradi\u00e7\u00f5es. Nega\u00e7\u00e3o da realidade. Segundo os especialistas, a covid-19 fez estes e outros fatores aflorarem. E, como no caso do HIV, exp\u00f4s a vulnerabilidade social e inequidade no acesso aos servi\u00e7os de sa\u00fade. \u201cAs pandemias se fortalecem onde h\u00e1 desigualdade\u201d, afirma a diretora-executiva do UNAids (ag\u00eancia da ONU para a doen\u00e7a), Winnie Byanyima, que defende a preval\u00eancia da sa\u00fade frente aos benef\u00edcios econ\u00f4micos atrav\u00e9s de iniciativas como The People\u2019s Vaccine Alliance. Falando de Nair\u00f3bi, ela cobra uma resposta global, multissetorial e com lideran\u00e7as femininas. Uma resposta que ponha as pessoas mais vulner\u00e1veis no centro, servindo-se da experi\u00eancia com o HIV.<\/p>\n\n\n\n

(Fonte: El Pa\u00eds)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O v\u00edrus da imunodefici\u00eancia humana (HIV) e o SARS-CoV-2 n\u00e3o se parecem em quase nada, mas a resposta \u00e0 pandemia de covid-19 tem muito a aprender com as quatro d\u00e9cadas de esfor\u00e7os contra a Aids. N\u00e3o s\u00f3 em mat\u00e9ria de pesquisa e desenvolvimento, mas tamb\u00e9m de comunica\u00e7\u00e3o, comportamento humano, equidade e implementa\u00e7\u00e3o de programas para prevenir, detectar e tratar a…<\/p>\n","protected":false},"author":990005,"featured_media":1886,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[79],"tags":[121,122,116,123,124,125,126,118,119],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2016"}],"collection":[{"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/990005"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2016"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2016\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/1886"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2016"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2016"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/playcipa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2016"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}