A ação ergonômica tem como principal objetivo adaptar o trabalho às pessoas, visando produzir bem, com conforto e segurança. Para a eficácia desse propósito, um dos pontos chaves é um conhecimento sólido sobre Biomecânica e Fisiologia do Trabalho.

ALAVANCAS E SEU IMPACTO

Desde Arquimedes, no século III A.C., sabe-se da existência de três tipos de alavancas: interfixa, interpotente e inter-resistente. O ser humano tem a alavanca interfixa no pescoço e na coluna vertebral lombar. Nesses dois pontos, o bom equilíbrio no eixo do corpo é fundamental para que não se tenha fadiga.

A alavanca inter-resistente é a melhor para se fazer esforços, mas ela praticamente não existe no ser humano. A grande predominância é de alavancas interpotentes, nas quais o ponto de aplicação da força está muito mais próximo da articulação do que a carga. Deduz-se, então, a regra número um da Biomecânica: “O sistema musculoesquelético do ser humano o habilita a desenvolver movimentos amplos, velozes e precisos, porém contra pequena resistência”. Em consequência, aplica-se o velho aforisma: “Quem planta vento, colhe tempestade”, que seria traduzido para: empresa que mantém seus trabalhadores fazendo força excessiva colhe afastamentos, atestados, processos na Justiça e perdas financeiras.

Assim, um dos primeiros princípios para uma atuação ergonômica eficaz nas empresas é investigar as situações em que os trabalhadores estão fazendo força muscular excessiva e tratar de reduzir a intensidade desses esforços.

  • Contração muscular dinâmica, sim; contração estática, não! Na contração muscular dinâmica, o músculo desloca o segmento corpóreo. Mas existe um outro tipo de contração muscular em que não se vê o deslocamento do segmento corpóreo. Porém, há um aumento do grau de tensão interna do músculo, geralmente para suportar um peso ou para estabilizar uma parte do corpo. São as denominadas contrações musculares estáticas, geralmente invisíveis para os menos experientes em ergonomia, nas quais o fluxo de sangue para o músculo é reduzido, o que resulta em aumento da produção interna de ácido láctico, potente irritante das terminações nervosas de dor.

    Elas costumam ser encontradas quando o corpo está fora do eixo vertical natural, em atividades com os braços acima do nível dos ombros, na sustentação de uma carga ou na estabilização de uma parte do corpo para que outra trabalhe. Também costumam estar presentes em uso intensivo de computadores quando o posto de trabalho está ruim ou quando a carga tensional está alta. Felizmente costumam durar pouco tempo, pois a dor muscular faz com que o indivíduo procure uma posição de alívio, se puder. Porém, se prolongadas, as contrações estáticas costumam ocasionar degeneração de músculos (mioses, tendinoses), de cura difícil. A prevenção passa por acerto da altura dos planos de trabalho, eliminação dos esforços assimétricos e de estabilização e por apoiar segmentos corpóreos quando isso se mostrar necessário.
  • Fatores mais importantes da equação do NIOSH: A avaliação científica das atividades de levantamento de cargas regulares e paletizações teve excelente contribuição com a equação do NIOSH, editada por aquela entidade norte-americana em 1994. Trata-se de um modelo numérico que permite comparar o peso real que o trabalhador está levantando (PR) com o Limite de Peso Recomendado (LPR) para aquela circunstância.

    A equação do NIOSH considera 23 kg como o Limite de Peso Recomendado máximo que poderia ser levantado. Esse valor deve ser reduzido (e nunca aumentado) considerando seis fatores da realidade daquela operação: distância horizontal entre o corpo do trabalhador e o centro de massa da carga, altura vertical em que a carga está sendo pega, altura vertical final no destino, ângulo de assimetria do tronco, frequência do levantamento e qualidade da pega da carga. É importante para o leitor saber que, dos seis fatores previstos na equação do NIOSH, dois são de grande importância: frequência do levantamento e distância horizontal do indivíduo à carga; dois são de média importância: altura vertical e assimetria; e dois são de pequena importância: distância vertical percorrida e qualidade da pega da carga. Assim, na ação ergonômica, deve o profissional de ergonomia procurar, prioritariamente, alguma forma de aproximar o indivíduo da carga e reduzir a frequência do levantamento. Uma das limitações da equação do NIOSH é que ela não leva em consideração o deslocamento com a carga (andar com ela). Outra limitação é ser de difícil aplicação na movimentação de cargas variadas, sendo que, nesse caso, uma alternativa é utilizar o Método LifTT.

MÉTODO LIFTT

Desenvolvido na Universidade Auburn do Alabama em 2016, trata-se de um modelo numérico para estimar a probabilidade de um trabalho monotask ou multitask ser considerado como de alto risco de lombalgia na execução de levantamento manual de cargas.

Os autores propõem uma ferramenta amigável, que tem somente três variáveis: peso do objeto que está sendo levantado; distância horizontal do centro de massa da carga à articulação do quadril do trabalhador (valor máximo); e repetição: número de vezes em que a ação técnica é realizada na jornada. Ou seja, considera somente os fatores mais importantes da equação do NIOSH.

O modelo fornece dois resultados: dano cumulativo de cada tipo de levantamento e estimativa global da probabilidade de classificar o trabalho em relação ao risco de lombalgia considerando o número de vezes de cada levantamento, permitindo ao analista atuar exatamente sobre aquelas atividades apontadas como críticas. Website: lifft.pythonanywhere.com.

PREVENÇÃO

É na prevenção das lombalgias que a Biomecânica apresenta seu maior potencial preventivo (e não é pouco, uma vez que as lombalgias no trabalho são a principal causa de afastamento de trabalhadores em todo o mundo). Os 10 princípios são: o corpo deve estar na posição vertical; estar bem sentado; redução da intensidade dos esforços físicos; redução do peso dos objetos; princípio PECPLOSP (cargas a serem levantadas devem estar perto do corpo, elevadas, devem ser compactas, transportadas por pequenas distâncias, leves, levantamento ocasional, de forma simétrica e devem ter pega adequada); eliminar os esforços estáticos ou apoiar o segmento corporal nessa situação; melhorar a alavanca do movimento, aproximando a resistência do ponto de apoio e afastando a aplicação da força do ponto de apoio; ações dentro da área de alcance; facilitar o esforço de puxar e empurrar cargas; e controlar a exposição à vibração de corpo inteiro.

A aplicação dos conceitos colocados neste artigo tem como consequência a redução de, no mínimo, 66% dos casos de afastamentos por dores na coluna vertebral. Convenhamos, é uma enorme contribuição da Biomecânica para a melhoria das condições de trabalho.

Fonte: Revista Proteção

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